sexta-feira, 18 de abril de 2008
Como a vida tem sempre tentado nos mostrar como ser alguém melhor cada dia.
Tipicamente, próximo à minha casa pela calçada, despercebido de qualquer outra coisa ao meu redor, caminhava sem pensar em nada importante ou ao menos relevante.
Tão logo voltei à realidade notei dois vira-latas à minha frente felizes e brincalhões com suas próprias travessuras. Engraçadinhos e espertos. Um deles olhando fixamente para mim enquanto pulava de forma engraçada. Parecia troçar de mim, porem simpaticamente tentava fazer com que eu demonstrasse algum interesse.
O outro reparei, apenas olhava meio afastado para seu colega e não apresentava tanta afinidade comigo. Na verdade eu queria mesmo era isso, que não gostassem de mim até no maximo de não me morderem, é claro.
Tão como um relance disse timidamente evitando ao maximo ser notado por alguém perto
–sai bicho!
Mas o bicho não saiu, ficou mais eufórico e pulava mais ainda como se entendesse que eu estava querendo interagir com ele de forma mais intensa... Coitado de mim para pular no meio da rua com dois vira-latas. rs
Adoro animais mas não estava no espírito amigável aquele dia e então apertei o passo afim de deixá-los para trás.
De longe olhei para trás e vi que pareciam amigos de anos, compartilhando passos, pulinhos e caretas engraçadas. Estranhamente quis sentir inveja do companheirismo deles.
O resto do dia correu comumente, normalidades, acasos e deveres como o cotidiano deve ser.
Na manha seguinte indo para o trabalho caminhando em direção à padaria, alguns metros depois de casa percebi ao canto da rua, próximo ao passeio os mesmos dois vira-latas, ambos olhando para mim, um sentado e o outro que no dia anterior quis de todas formas me entreter por um pingo de atenção estirado no chão recém atropelado e com grande hemorragia. Seu sangue escorria pela boca para a rua. Deitado, moribundo olhava para mim com a mesma feição de ternura do dia anterior, e balançava sua calda enquanto me olhava. Seu companheiro fiel estava ao seu lado sentado, talvez esperando que o inevitável viesse para poder dar o próximo passo ao seu novo rumo
Fiquei perplexo como o bicho quase morto conseguiu transparecer ternura em seus últimos momento de vida.
Tal cena chocou e me fez pensar sobre atitudes que sempre então próximas a nós através de pessoas que se auto traduzem como imperadores de seus reinos e castelos de areia. Atitudes tais como hipocrisia, mesquinharia, mentiras, esnobismo e ostentação, egoísmo, auto-suficiência e até mesmo baixaria sem fundamentos que me levam a perceber o quanto é possível ser melhor com o mínimo para o próximo.
Detalhes pequenos são e sempre serão a diferença entre o poético e vulgar e aprendo que viver na imundice não é razão para não ser alvo e cético aos bons sentimentos, compartilhando-os da mais autêntica forma sempre.
Gostaria de estar mais aberto à estes detalhes da vida como este que, sempre estão ao nosso redor, podendo percebê-los de forma mais clara e sincera como sinais de algo maior que nós. Não sei bem o que poderia ser este algo maior mas, a certeza é que é algo puro e supremo.
Deixo estes rabiscos na esperança de entender o que ainda não entendo sempre que ler novamente.